quarta-feira, 7 de maio de 2008

O futuro já começou...

Que eu tenho síndrome de Peter Pan não é novidade pra quase ninguém. Mas esses dias eu tenho me sentido muito velha. Calma, eu sei que só tenho 24 e tal, e que sou nova, tenho muita coisa pra viver etc e blá.

Mas é fato que eu já sou velha pra muitas coisas (pra ir em festas de 15 anos, que eu adoro, por exemplo). E o negócio é que eu já estou ficando velha pra ser um fenômeno no que quer que seja.

Esse sentimento já ficava atrás da minha orelha desde que nunseiquem me disse que o auge da criatividade humana ocorre entre os 20 e os 25 anos. Era essa idade que tinham a maioria das pessoas que realizaram os grandes feitos da humanidade. James Watson tinha 25 anos quando publicou o trabalho sobre a estrutura de dupla hélice do DNA.

Recentemente, essa pulguinha voltou a me incomodar. Primeiro, eu vi que a Victoria Ceridono, que foi recentemente contratada pela Vogue e tem um blog ótimo sobre maquiagem tem 22 anos recém-completos!!! E o Dr.Chase, um dos pupilos do Dr.House (um seriado médico ótimo sobre diagnósticos impossíveis) tem 25! Tudo bem que é um seriado de ficção, mas se puseram essa idade no cara, é pq é compatível com a realidade.

Pois bem, e eu? Sei que muita gente vai falar: "Mas vc está na França, fazendo doutorado!". Acontece que na área que eu escolhi, isso é relativamente normal, não é nada de mais. Aliás, tem cada vez mais se tornado uma obrigação. Tipo saber inglês! Hoje em dia saber inglês não é diferencial pra ninguém, é quase obrigação. Pois na biologia, doutorado sanduíche no exterior é quase o mínimo que vc tem que fazer se quiser continuar tendo oportunidades! O princípio da Rainha Vermelha, que nós biólogos estamos tão acostumados.

Explico o princípio da Rainha Vermelha: é um termo biológico pra explicar a coevolução entre parasitas e hospedeiros. Ele tem esse nome por causa de um livro que chama "Através do Espelho", do Lewis Carroll (autor de Alice no Pais das Maravilhas). No livro tem uma passagem (não sei muito bem como que é, pq eu nunca li o livro!) em que a Rainha de Copas manda o cara lá jogar um xadrez gigante, no qual ele é a própria peça. Só que o tabuleiro "corre" debaixo dele. Tipo uma esteira. Então pra ficar no mesmo lugar, o cara precisa correr. E é isso que acontece com essa história de doutorado. Na verdade eu estou "correndo" pra continuar no páreo, e não avançando de verdade.

Que eu muito provavelmente não vou fazer nada de notório ou extraordinário na vida, eu até consigo lidar com isso. Até o fato de que eu tenho certeza de que eu não vou ser nada rica, pacto selado no momento em que eu escolhi ser bióloga, já está ok pra mim tbm. O que me incomoda é a minha falta total e absoluta de perspectiva pro futuro. Vou concluir o doutorado, mas e depois? A gente era a geração so futuro, só que ele já começou e esqueceu de chamar!

E eu fico revoltada de ver que isso não acontece só comigo. Tenho várias amigas que estudaram comigo e que não estão exatamente satisfeitas com suas perspectivas. E olha que a gente fez tudo direitinho: estudou em colégio bom, sem malandrar demais; passou em universidade boa; levou o curso a sério, fez estágio desde cedo, formou, correu atrás. Mas e aí? Será que o mundo não percebeu ainda o nosso potencial sendo jogado fora?

Mas quem falou que a vida é justa, né? Quem falou que era só fazer tudo direitinho que no final do arco-íris tinha pote de ouro esperando? E o que a gente faz agora? Senta e chora? Muda radicalmente de direção e abre uma papelaria? Vira hippie? Joga as fichas no marido rico?

Tava a ponto de explodir quando foi o próprio candidato a futuro marido rico Felipe que me acalmou: querendo ou não, agora que eu ganhei essa bolsa pra vir pra França, eu assinei um documento em três vias que em 4 anos eu TENHO que defender meu doutorado. Não posso nem me dar ao luxo de despirocar e jogar tudo pro alto agora. Já foi quase um ano. Então enquanto eu não posso fazer nada, deixa o futuro correr... Daqui 2 anos e meio porém, a gente conversa...

7 comentários:

Anônimo disse...

Minha querida, todos nós, os seus, sabemos de você... como é especial,brilhante... O "mundo" tá começando a te conhecer e tenho certeza que vai se surpreender...não vai "desperdiçá-la"... (ele não é bobo!).
Mário Quintana cantarolou em seu "Poeminha do contra" com muita simplicidade e verdade,pra... você que vai voar muuuuuiiito:
"Todos esses que estão atravacando o meu caminho,
eles passarão...
eu p
a
s
s
a
r
i
n
h
o!"
Muitos beijos e que Deus te abençoe!

Anônimo disse...

Clara:É muito bom fazer reflexões sobre a vida,pensar,analisar,projetar o pensamento no futuro, traçar caminhos.Vamos devagar.Ainda bem que você tem o Felipe para te apasiguar.Leia estas palavraqs da Lia Luft:ainda que a gente nem perceba,tudoé avanço e transformação,acumulo de experiência´dôres do parto de nós mesmas´cada di refeito. ´

Anônimo disse...
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Mariana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mariana disse...

Depois de reflexões tão profundas, nada como esfriar a cabeça em Cape Ferrat!!!Vai ser gauche na vida!!!
bjim da Sis

Julia Mesquita disse...

querida!

o mundo ainda vai nos dar o devido valor!

aguarde e confie!

Anônimo disse...

É Clarinha,
o mundo ainda vai reconhecer a gente! Eu tenho certeza que quando a gente terminar nosso doc maravilhoso nós vamos ter um lugar pra trabalhar. Pode ser que nesse lugar a gente nao possa usar as dicas de maquiagem da sua tão querida Victoria Ceridono, mas... vamos poder andar mais bem arrumadas, pelo menos!
:-)
Entendo a sua agonia. Tambem sofro disso, mas cada vez mais eu tenho a sensação de que as coisas estao REALMENTE melhorando. Estamos correndo um pouquinho mais que o tabuleiro!
Bjus,
Miro