sexta-feira, 25 de abril de 2008

Choque cultural

É muito engraçado ver, apesar do mundo globalizado e de sermos todos seres humanos em geral, como os países são diferentes mesmo!

Tem um cara aqui no laboratório que nasceu no Vietnã, mas já tá aqui faz tempo. Dentro do projeto de cooperação científica Brasil-França, no qual estou tbm inserida, a 15 dias atrás ele esteve no Brasil, em BH.

Sendo o Vietnã um país mais pra "tropical" tbm, com frutas, natureza e essa coisa toda que geralmente enlouquece os gringos, não foi isso que chamou mais a atenção do meu colega de laboratório. Mesmo tendo passado um fim de semana em Macacos, que é lindo até pra quem é nativo na minha opinião .

Ontem ele veio conversar comigo, pra contar sobre sua "experiência" em Belo Horizonte. Contou que gostou muito e foi muito bem recebido. Que o brasileiro é um povo muito caloroso e acolhedor, blablabla e essa história toda da gente virar "índio quer apito" sempre que vê um gringo. Conversamos um pouquinho e ele voltou pra sala dele.

5 minutos depois ele volta intrigado. Queria muito me fazer uma pergunta. Ele parecia mesmo encafifado com o negócio. Ele me perguntou quanto que uma pessoa pagava geralmente pra esses tomadores de conta que também lavam o carro. Eu respondi que tipo de 10-20 reais. E ele ficou maravilhado! "Mas lava dentro do carro também?" Respondi: se vc assim quiser, lava tbm! "Mas que coisa formidável!"

Eu nunca tinha pensado nisso, mas realmente aqui na França, mesmo nos lava jatos, é vc mesmo que lava seu carro. Aliás, qualquer serviço mais sub aqui é vc mesmo que faz. Vc paga pelos aparelhos. É até engraçado , pq tem um lava-jato aqui perto e sempre vejo umas madames de salto na labuta, de mangueira e bucha na mão. Realmente lavadores de carro podem ser interessantes. Até mesmo pq eles lavam seu carro enquanto vc tá em algum compromisso, o que também poupa seu tempo. Só não é legal quando eles ameaçam arranhar seu carro quando vc não quer lavar, ou coisas do tipo.

Depois da euforia, ele ficou mais grave e perguntou: " As pessoas que fazem esse serviço, são os habitantes das favelás? ". Habitantes das favelas! Falando assim parece até que é um outro planeta! Achei bizarro! Mas a constatação de que sim, são os habitantes das favelas que fazem esse serviço, me lembrou de toda essa questão de subempregos no Brasil, de gente que aceita as migalhas da sociedade pra fazer aquilo que os que tem dinheiro tem preguiça ou preferem não fazer. Aqui ninguém se submete a isso, por isso essas coisas como faxineira, lavadeira, passadeira, cozinheira, lavador de carro, bombeiro, eletricista, pedreiro, etc são serviços caros e não são utilizados pela classe média, como acontece a rodo no Brasil. Não vou negar que isso é um comforto muito bom pra gente, mas com certeza não é exatamente um bom negócio pros "habitantes das favelas".

Outra coisa que ele ficou impressionado foi que, uma 4a feira a noite ele foi em um restaurante com um professor da UFMG. Na mesa ao lado haviam umas 4 ou 5 jovens senhoras, nos seus early-60's, bebendo vinho tinto e falando alto (seu futuro com as meninas, mamãe!). Tá, qual é o estranho disso? Ele disse que isso não se vê na França. Mulheres sozinhas bebendo e fofocando. E ele nem falou num tom de reprovação machista não. Era estranhamento mesmo. Que que essas mulheres francesas, elegantes, inteligentes e independentes fazem, que não podem sair com as amigas e conversar alegremente em torno de um bom vinho? Eu, hein!

3 comentários:

Anônimo disse...

É Clozinha, apesar do nosso país estar em desenvolvimento temos nossas vantagens hehe...

patricia duarte disse...

rararara....é mesmo Cacá. O que essas mulheres francesas, elegantérrimas, fazem que não podem sair com as amigas para tomar um vinho, bebericar uma cerveja e botar a conversa em dia? Hein? Vai dizer que ficam tricotando ao lado da lareira? Lendo Flaubert? Ou, como diz o grande Raul Seixas, ficam sentadas esperando a morte chegar? Tô fora. Meninas, precisamos reagir rapidamente. Que tal marcarmos uma saída na próxima semana, do feriado? bjins

Prós disse...

Oi, Clara. Passei por aqui tbm pra saber melhor das suas impressões. Uma das coisas que acho mais bonitas na sociedade européia é justamente isso: todo trabalho sujo, quem faz é vc mesmo e não algum pobre coitado que não teve a sorte de nascer em berço mais refinado. A sociedade aqui é muito mais igualitária e eu acho isso filosoficamente maravilhoso. (É claro que existem outros problemas graves, como a xenofobia, etc.)

Enfim, embora seja sim confortável pagar uma mixaria pra alguém limpar seu carro ou sua casa, eu prefiro ideologicamente limpar minha própria sujeira do que pagar pouco pra alguém fazer isso. Me sinto melhor assim. Fora isso, eu acharia justo também pagar mais ou menos o mesmo se ganha por hora pra alguém fazer um trabalho sujo... afinal, não deixa de ser um trampo como qualquer outro. O foda é pagar uma super-mixaria.

Valeu pelo comentário e vamos manter contato. Se quiser conhecer Strasbourg, tem pouso. []s!