segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Eu não sei nada do mundo...

Essa foto a gente tirou no último domingo da Júlia aqui, na praia de Palavas. Eu tirei a foto pq foi uma coisa que me chamou a atenção. Tava um calor desgraçado e uma família de muçulmanos estava logo ao nosso lado. Os homens de calção, as crianças brincando na areia, algumas mulheres tomando sol de biquini e outras vestidas dos pés á cabeça, com véu e tudo!!! Na foto, uma amiga-prima-cunhada-parente de biquini tenta convencer a outra, completamente vestida, a dar um pulinho no mar. Olhando um pouco mais em volta, vi mais muitas mulheres na mesma situação. Muita dó de enfrentar o calor, ainda mais de frente pro mar, vestida desse jeito.

Confesso que eu só começei a me dar conta da existência da comunidade muçulmana, forte e grande como ela é, depois do 9-11. Eu tava no 3o ano, no Pitágoras, num 5o horário acho que de matemática se não me engano, quando as notícias começaram a pipocar no celulares (ainda relativamente poucos) dos alunos. Minha sala era a única que pegava TV no data show, e logo todos os professores estavam lá olhando pras cenas do World Trade Center em chamas e a gente foi liberado mais cedo. Mais tarde relacionaram o atentado aos fundamentalistas islâmicos e eu achei a coisa toda muito doida: quem é esse povo e qual o problema deles com os EUA? Não que eu tivesse qualquer sentimento de amor pela "América", mas na época eu não entendi muito bem o que eles estavam querendo. Na minha cabeça, eles eram uns gatos pingados pela Arábia, no meio do deserto, criando camelos e rezando voltados pra Meca e só.

Com o tempo, fui percenbendo que o buraco era mais embaixo. Mas depois que eu vim pra cá que eu realmente me dei conta que o buraco é abissalmente mais embaixo! Os muçulmanos dominam a Europa, é só ter olhos pra ver! E não sei se todo mundo se dá conta disso. Num livro que a Júlia me emprestou que chama "O Flanêur" (que eu amei!), onde o cara conta algumas histórias e impressões dele de Paris, ele fala que a cidade deixou de ser branca a muito tempo! Aqui em Montpellier, eu acho que eu nunca peguei o tramway sem um muçulmana característica levando pelo menos um carrinho de bebê! Isso quando não são mais de um carrinho, ou um carrinho e mais dois pequeninos do lado. Daqui uns 20 anos, essas crianças dos carrinhos vão ter crescido. E vão ter se criado na França, que provavelmente vai ser o país onde elas vão trabalhar, votar, viver! E elas vão ser a grande maioria, com certeza, já que o envelhecimento nos países europeus é nítido (apesar da situação ter começado a melhorar um pouco). Eu não falo isso com pavor, achando que vai ser o fim do mundo se os muçulmanos dominarem a Europa. Mas falo isso com o espanto de quem não sabia a dimensão da coisa antes!

E se isso tá acontecendo mesmo, a gente tem que começar a se informar e a entender essa cultura. Coisa que nem eu nem o governo francês parece manjar muito. Essa questão do véu, por exemplo, é uma coisa que eu não consigo formar uma opinião. A Randa, doutoranda tunisiense aqui no lab, é muçulmana e não usa, apesar de rezar (mas não as 5 vezes..), só comer a carne específica que eu esqueci o nome, não ingerir álcool nem se for numa torta de chocolate com uma gotinha de licor. Uma pesquisadora lá da Tunísia tbm que veio visitar o laboratório usa. É solteira, cientista e usa porque quer. Da mesma forma que eu uso um cruxifixo se eu quiser. As meninas são proibidas aqui na França de usar o véu na escola. Uma muçulmana tbm teve seu pedido de naturalização negado, mesmo após anos e anos de vida na França, por usar o véu, pois a França se diz um Estado laico e que preza pela liberdade e igualdade. O véu seria um símbolo contrário a tudo isso. Na rua, além das tradicionais, gordinhas e com lenços e roupas bem típicas, tem algumas mocinhas chiquérrimas, de salto agulha, jeans skinny, que usam um lenço Hermés ou Luis Vuitton na cabeça enquanto compram lingerie fio dental. Seriam elas reprimidas?

Quando eu veja a coitadinha de véu derretendo na praia, enquanto os maridos se bronzeaim de nadam no mar de shortinho, eu fico indignada. Me parece um machismo e uma repressão clara e certa. Mas será que proibir o véu não é proibir tbm um identidade cultural, pra quem tá afim de expressar? Mas será que essa "liberdade" de usar o véu se quiser é mesmo uma liberdade? Quando eu começo a pensar nisso, fico um pouco confusa. Aliás, MUITO confusa.

Nessas horas eu vejo que eu não sei NADA do mundo. E o pior que com as Olimpíadas eu lembro da China bombando na economia! Vem aí mais gente que eu não entendo. SOCORRO!!!

2 comentários:

Mohamad Chucrutes disse...

Abaixo ao imperialismo capitalista. Allah o Akbar

Rafael Morgan disse...

Putz Clarinha! Lembro-me exatamente desse dia...11 de Setempro de 2001. A gente era da mesma sala.
Faço das suas impressões as minhas.