Desculpem a obsessão, mas "ser estrangeiro" é um assunto que acaba sempre aparecendo, pq é (drrr, óbvio!) uma situação que eu nunca vivi antes. E uma que eu nunca quis nem imaginei viver, e por isso nunca gastei fosfato pensando.
Ontem eu fui na Prefecture (que não é a prefeitura, mas tipo o PSIU) resolver um probleminha do meu endereço na carta de Sejour que não estava atualizado, nada de grave. Cheguei lá na hora que abria e já tinha uma fila imensa, marcada "étrangers". A maioria da fila constituída pelos onipresentes muçulmanos do Mahgreb (Marrocos, Argélia, Tunísia e derivados). Já na fila, tinha um clima meio estranho, e mais estranho ainda quando entramos. É difícil explicar, mas é tipo um constrangimento generalizado, uma falta de graça por estar com uma plaquinha de "ESTRANHO" (=étrange, mesma raiz da palavra!) na testa, misturada com medo de ter alguma coisa errada nos seus papéis ou do povo implicar com vc e ser deportado do nada.
Minha senha era a de número 42, então tive bastante tempo pra observar o povo. A maioria, quando era chamado, chegava lá com a cara de apreensão, abraçado na pastinha de documentos e saia alguns minutinhos depois com uma cara de alívio que dava gosto de ver. Alguns casos eram mais drásticos, como um moço cujas filhas e esposa foram barradas de voltar á França. Ele tava desesperado, tadinho. As atendentes era aquela coisa francesa: cara de entojo + educação. Mas parece que conseguiram resolver o problema dele. Algumas pessoas (como eu!) foram no local ou dia errados (eu, como sou estudante, tinha que ter ido no Pole Universitaire, mas ele tá fechado até setembro!) e as atendentes não esperavam nem vc completar a frase pra te dispensarem. Bem grossinhas...
Mas aí foi um moço, com mais cara de tadinho do universo, que me pôs pra pensar naquela situação toda. Lá pelas tantas, a comunidade muçulmana de Montpellier tava toda lá! Homens novos e velhos, mulheres com e sem véu, todo mundo chegava, se cumprimentava e tal. O tadinho não falava francês. Mas aí foi uma moça da comunidade lá ajudar ele. O problema é que ele tinha a carta de sejour, mas ela estava vencida e ele queria renovar. Só que o pedido de renovação deve ser feito 2 meses antes da data final. Muito bem.
Eu sou a pessoa mais em cima do muro do universo, e nesse caso eu não consegui me decidir o que pensar. Pelo lado do tadinho, além dele ser tadinho, eu fiquei revoltada de um serviço que lida com estrangeiros, e onde a maior parte desses estrangeiros falam árabe, não ter um ser humano sequer que fale outra língua que não o francês. Depois, a moça poderia ter sido mais compreensiva, já que estavamos todos naquela situação constrangedora de estranhos no ninho, e falado de uma forma mais tranquila com ele, não como se ele fosse um burro de 7 anos de idade. Mesmo que não tivesse o que ser feito naquela situação.
Mas aí eu comecei a pensar pelo outro lado. Como que um cara, por mais tadinho que seja, que está aqui a mais de um ano com certeza, e que deseja permanecer aqui, não se dá ao trabalho de aprender a língua local? Não acho que a gente tem que abrir mão da nossa cultura ao morar em um país diferente, mas um MÌNIMO de adaptação ao ambiente em que estamos tem que ter, né? Isso é até biologia, e não sociologia! E se vc já conquistou o direito de permanecer naquele país, vc tem que cuidar desse direito! Como que o cara perde a data de renovação de bobeira assim? Aí fica difícil pra moça do balcão ser gentil, pra política do país ser favorável...
Não estou traindo os meus pensando assim, mas acho que essa questão é bem complicada, e rende bastante, né? Espero que vcs não fiquem de saco cheio do assunto, mas é que pra mim dá o que pensar!
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Tema recorrente...
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2 comentários:
Clarinha ! eu adoro ler seus posts pq sempre tem uma reflexão fácil de se identificar com ela ! eu tb sofro qdo fico dividida sobre o que pensar em situações e aí fico pesando os lados pra ver se eu mesmo me convenço de alguma coisa !!! hahaha.... bom pelo menos é bom saber que a gnt não doida e outros tb pensam assim !
Mudar o mundo a nossa maneira é complicado.
Cada um quer que a sua situação seja resolvida.
Também acho tadinho do cara, e o problema é que ele deve ser tão tadinho que achava que seus direitos já deviam estar assegurados.
Deve ser dessas pessoas igual vários brasileiros que vão para o exterior, trabalham em um sub-emprego que a própria comunidade de seu país lhe arruma, então só vive neste meio e consequentemente não aprende a língua do país.
A maioria das pessoas perde o seu direito por não saber o que exigir.
Mas concordo que neste tipo de situação eu também ficaria em cima do muro.
Beijo.
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