Esses bichinhos/ETzinhos de mosaico fazem parte do meu dia a dia. Em cada esquina tem um de cor diferente! É uma verdadeira invasão, principalmente no centro!
Diz a Júlia, minha consultora para assuntos humanas/sociais/"epistemiológicos"/urbanísticos que é um cara famoso que faz essas intervenções. É como se fosse um "grafite"!
Confesso que antes tinha preconceito com "pixação". Achava que sujava, poluía o ambiente. Claro que tem o vandalismo puro e simples, mas depois que comecei a prestar atenção, vi que tem muita coisa bacana tbm! Tem arte, tem poesia, e tem também uma voz de protesto que pode ser ouvida, mas de uma forma mais sutil.
Durante as viagens que a Júlia fez por aqui, metade das fotos que ela tirou eram dessas intervenções urbanas. E ela me ensinou que essas coisas fazem a gente ver que a cidade tá viva, né? Ainda mais aqui, onde tudo é antigo, é um jeito de dar uma atualizada boa!
UPDATE: Achei a nave dos ETzinhos!!!
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Invasão urbana
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Tema recorrente...
Desculpem a obsessão, mas "ser estrangeiro" é um assunto que acaba sempre aparecendo, pq é (drrr, óbvio!) uma situação que eu nunca vivi antes. E uma que eu nunca quis nem imaginei viver, e por isso nunca gastei fosfato pensando.
Ontem eu fui na Prefecture (que não é a prefeitura, mas tipo o PSIU) resolver um probleminha do meu endereço na carta de Sejour que não estava atualizado, nada de grave. Cheguei lá na hora que abria e já tinha uma fila imensa, marcada "étrangers". A maioria da fila constituída pelos onipresentes muçulmanos do Mahgreb (Marrocos, Argélia, Tunísia e derivados). Já na fila, tinha um clima meio estranho, e mais estranho ainda quando entramos. É difícil explicar, mas é tipo um constrangimento generalizado, uma falta de graça por estar com uma plaquinha de "ESTRANHO" (=étrange, mesma raiz da palavra!) na testa, misturada com medo de ter alguma coisa errada nos seus papéis ou do povo implicar com vc e ser deportado do nada.
Minha senha era a de número 42, então tive bastante tempo pra observar o povo. A maioria, quando era chamado, chegava lá com a cara de apreensão, abraçado na pastinha de documentos e saia alguns minutinhos depois com uma cara de alívio que dava gosto de ver. Alguns casos eram mais drásticos, como um moço cujas filhas e esposa foram barradas de voltar á França. Ele tava desesperado, tadinho. As atendentes era aquela coisa francesa: cara de entojo + educação. Mas parece que conseguiram resolver o problema dele. Algumas pessoas (como eu!) foram no local ou dia errados (eu, como sou estudante, tinha que ter ido no Pole Universitaire, mas ele tá fechado até setembro!) e as atendentes não esperavam nem vc completar a frase pra te dispensarem. Bem grossinhas...
Mas aí foi um moço, com mais cara de tadinho do universo, que me pôs pra pensar naquela situação toda. Lá pelas tantas, a comunidade muçulmana de Montpellier tava toda lá! Homens novos e velhos, mulheres com e sem véu, todo mundo chegava, se cumprimentava e tal. O tadinho não falava francês. Mas aí foi uma moça da comunidade lá ajudar ele. O problema é que ele tinha a carta de sejour, mas ela estava vencida e ele queria renovar. Só que o pedido de renovação deve ser feito 2 meses antes da data final. Muito bem.
Eu sou a pessoa mais em cima do muro do universo, e nesse caso eu não consegui me decidir o que pensar. Pelo lado do tadinho, além dele ser tadinho, eu fiquei revoltada de um serviço que lida com estrangeiros, e onde a maior parte desses estrangeiros falam árabe, não ter um ser humano sequer que fale outra língua que não o francês. Depois, a moça poderia ter sido mais compreensiva, já que estavamos todos naquela situação constrangedora de estranhos no ninho, e falado de uma forma mais tranquila com ele, não como se ele fosse um burro de 7 anos de idade. Mesmo que não tivesse o que ser feito naquela situação.
Mas aí eu comecei a pensar pelo outro lado. Como que um cara, por mais tadinho que seja, que está aqui a mais de um ano com certeza, e que deseja permanecer aqui, não se dá ao trabalho de aprender a língua local? Não acho que a gente tem que abrir mão da nossa cultura ao morar em um país diferente, mas um MÌNIMO de adaptação ao ambiente em que estamos tem que ter, né? Isso é até biologia, e não sociologia! E se vc já conquistou o direito de permanecer naquele país, vc tem que cuidar desse direito! Como que o cara perde a data de renovação de bobeira assim? Aí fica difícil pra moça do balcão ser gentil, pra política do país ser favorável...
Não estou traindo os meus pensando assim, mas acho que essa questão é bem complicada, e rende bastante, né? Espero que vcs não fiquem de saco cheio do assunto, mas é que pra mim dá o que pensar!
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Documentações não postadas
Depois do post da visita que não foi documentada, eis um post sobre eventos que foram documentados e não postados!
Essa foto aí foi no Estivales, que é um evento que acontece na esplanada em frente a praça da Comedie toda 6a a noite, durante o alto verão. Fica tendo umas barraquinhas de comida, artesanato, tipo feirinha de praia. Tem uns shows e o grande atrativo é a degustação de 3 vinhos diferentes + uma tacinha decorada (que eu estou lindamente segurando na foto). Fica sempre lotado! A gente só lanchou, degustou e foi embora!
Esse foi o último finde do Felipe aqui. Pegamos uma prainha...
Esse é o famoso beignet, o equivalente da empada praiana aqui, o petisco mais comido na praia. Só que ele é um pão doce, recheado do que vc quiser: morango, damasco, nutella, maçã... É bem gostoso, bem gurdurento, mas achei que combina zero com clima de praia, né? A concepção praiana do povo aqui é realmente outra!
Como a gente estava no clima "fritura é vida", fomos fazer algo que queríamos ter feito a muito tempo: provar o balde de frango do Kentucky Fried Chicken! Teve uma época aqui que tinha propaganda do KFC por toda parte e a gente não descobria nunca onde era! Ele é no caminho pra praia, tipo fora da cidade! Pedimos o frango, e fiquei meio decepcionada de não ter vindo num balde... Mas ele é beeeeeeem frito, com a pele do frango bem crocante e apimentadinha! Calorias no teto! Caiu igual um tijolo, mas teve bão!
Esse foi o meu primeiro finde sozinha aqui! Faxinei muito a casa toda e até lavei meus sapatinhos que estavam imundos! O all star ficou beleza! O outro, de lona clara, ficou meio manchadinho, mas finge que é charme!
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Visitas não documentadas : (
Na 6a feira, Bernardo e sua linda namorada Flavinha (que veio visitar essa banda do Atlântico) me fizeram uma visita relâmpago! Eles fizeram a já famosa e incontournable Road Trip Provence, e na volta deram uma passadinha aqui.
Passadinha meeeeesmo, pq chegaram ás 8 da noite de 6a e foram embora á 7 da manhã de sábado. Mas foram ótimas 11 horas!
Batemos um papo básico, eles tomaram banho e fomos mais uma vez á tradicional creperia! A esquina da minha casa, onde tudo de Montpellier acontece, estava bombando! Ficamos comendo, tomando um rosé e conversando até incríveis 1h da manhã, o que é alta madrugada pros padrões daqui! Depois disso, casa + conversinha + dormir + partir!
Fiquei revoltada só com o fato de que eu não tirei nenhuma fota da visita! Mas eu juro que eles vieram, não foi uma invenção da minha mente solitária!
O resto do finde passou sem maiores sobressaltos. No sábado dei uma passeada pelas lojas, domingo lavei roupa, vi uns filminhos e assim se foi mais um fim de semana!
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Pra provar os vinhos do Sud de France!
Como eu disse a um tempinho aqui no blog, vai ter um festival enológico-gastronômico do sul da França e BH tá dentro da 2a edição (na 1a, claro que só deu Rio e SP!).
Vai de 3 a 12 de outubro! Dá pra comprar vinhos daqui com preços mais razoáveis e ainda degustar nas lojas ( Casa do Vinho, Decanter, Expand e Supernosso). Os restaurantes prepararam pratos especiais inspirados na culinária da região, harmonizados com os vinhos e acho que pedindo o prato, vc ganha uma taça! Participam A Favorita, D'Artagnan, DiVino, Gomide, La Victoria, O Dádiva, Splendido e Taste Vin! Deve ter muita coisa boa!
Tô fazendo propaganda pq acho que meus genes ultrapatrióticos já se apegaram um pouco aqui! Aí tem que divulgar as coisas da minha terra provisória!
Clica em cima da figura que eu acho que aumenta!
Vi aqui!
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Quem procura, acha aqui!
Recentemente, coloquei o SiteMeter no blog pra contar os acessos, a título de curiosidade. Ainda não sei fuçar direito nele, mas sei que desde que eu coloquei foram 399 visitas, sendo uma média de 32 por dia com duração de 3 minutos cada. Pas mal prum blog sem pretensões de longo alcance!
Hoje finalmente consegui achar as palavras chaves de busca que levaram ao blog. Tem algumas coisas pertinentes, outras nem tanto!
- "coisas bizarras da França" -> bem pertinente!
- "Nîmes monumentos" -> esse eu sou o 2o site que aparece! Sou referência nacional de Nîmes!
- "falando sobre fazenda" -> whaaat???
- "Aluguel de carro na Provence" -> propaganda pra moça que deu o mercedão pra gente!
- "o clima de Montpellier no mês de novembro" -> ainda não chegamos lá pra saber, né?
- "Click BH UAI folia" -> acho que tão caindo aqui pelo parentesco, hein Dani?
- "Dusseldorf festa" -> vale a pena
- "tudo sobre o maison carré" -> vou virar guia turística de Nîmes!
- "lagardo em mosaico" -> Gaudí
- "mineirança" -> que lindo!!!
O mistério das bananas da martinica!
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Anti-social?
Depois que o Felipe foi embora, todo mundo tá perguntando se eu tô bem. Eu tô ótima! Na verdade, eu tô bem até demais! Claro que morrendo de saudade DELE, mas não morrendo pelo fato de estar SOZINHA.
E aí eu me pus a pensar... Todo mundo, quando vai pra fora, ou fica amigo de vários brasileiros, de diferentes partes do país, ou então faz vários amigos internacionais com os quais mantêm certo contato e pelos quais sofrem na hora de ir embora, o que divide o coração com a felicidade de voltar pra casa. Eu não.
Conheci pessoas aqui, saí com elas, achei elas legais e acredito que eu tbm fui legal com elas. Mas não criei um vínculo. E não tô achando isso ruim de jeito nenhum. Pelo contrário, estou até gostando bastante de ficar sozinha, fazer as minhas coisinhas quando e como eu quero... Vcs podem falar que é pq tem só uma semana que o Felipe foi embora, e que daqui um tempo eu vou estar morrendo, mas antes dele chegar eu passei um mês sozinha e a cada dia que passava eu curtia mais a minha própria companhia. Será que isso tá errado?
Eu sou uma pessoa super sociável normalmente, mas acho que pra amizade ir além do social tem que ser uma coisa espontânea e tem que ter afinidade! Desde quando eu era mais nova e minha mãe falava pra minha irmã me chamar pra sair quando eu ficava muito entediada em casa que eu tenho pânico de caridade! Não quero ninguém conversando comigo ou me chamando pra sair por dó, pelo fato de eu estar sozinha! Talvez por isso eu acabe criando barreiras que eu não percebo...
Mas a verdade é que eu não tive a oportunidade de evoluir um relacionamento com ninguém aqui. No lab acaba que eu não fico muito parada, então as conversas acabam sendo mais superficiais. Esse negócio de sair correndo atrás de qualquer pessoa que fale português na rua eu acho meio forçado. Acho bacana ter um referencial de brasileiros por aqui, pq acaba que em horas de perrengue pode ser útil ter alguém que fale a mesma língua que vc, mas não acho que pessoa vai ser minha amiga instantânea só pq a gente é compatriota!
Ás vezes eu penso tbm que eu não fiz a minha parte direito. Eu atendi a todos os convites que eu recebi mas não fiz nenhum. Em parte por preguiça e em parte pelo meu pânico de quebrar o código social francês! Como eu não sei direito como as coisas funcionam aqui eu fico com medo de ser muito folgada e sem noção e ser xingada! Por isso que ás vezes eu sou jacu a ponto de nem perguntar num restaurante se eu posso usar o banheiro! Sei lá o que esse povo considera falta de educação ou não! Aí eu acabo ficando na minha. Será que eu devia ter feito mais força?
Eu acho que isso não tá me fazendo sofrer e como ninguém TEM QUE nada nessa vida, acho que vou permanecer assim. Tenho muuuuuuuuuuuitos amigos no Brasil, graças a Deus. Não acho que estou deixando de aproveitar nada aqui e estou gostando muito de tudo!
Ou será que eu tô virando uma doida esquisita?
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Terra estranha com gente esquisita!
Eu nunca vi tanta gente bonita quanto aqui na França! E é uma beleza francesa, que nem sempre é óbvia ou obedece padrões estéticos. O povo é fino e elegante até o osso, independente de idade, classe social, cor e etc. Já tentei analisar exatamente O QUE contribui para essa imagem requintada, mas não consegui definir. Dá pra ficar horas só observando as pessoas.
E nessas observâncias eu constatei uma outra coisa: eu tbm nunca vi tanta gente doida/esquisita/bizarra/com-tique-nervoso junta em um lugar só! E eu morro de medo de gente doida! Mais até do que de assaltante/sequestrador/assassino e afins, pq esses ainda dá mais ou menos pra prever o que eles vão fazer. Gente doida não. Gente doida de outro país então é aterrorizante!
Além de doidos anônimos do dia-a-dia no tramway, que são esquisitos, falam sozinhos, falam coisas sem sentido com os outros, gritam aleatoriamente e etc, tem os doidinhos já conhecidos: o "seu tio" e o "seu primo". O seu tio é um velhinho que fica sempre de manhãzinha na rua que eu subo pra pegar o tramway, batendo altos papos sozinho. O seu primo é um doidão que fica sempre na porta do shopping com um violão quebrado e com uma corda só "cantando" pro povo (e tem gente que joga moedinha!). Tem dia que ele tá num clima mais intismista, introspectivo, tem dia que ele tá totalmente rock&roll, super rebelde, tem dia que ele tá feliz, tem dia que ele tá piadista e fica rachando de rir do povo que passa... Uma peça! Esses doidinhos, que eu já estou mais familizarizada, eu até acho mais inofensivo.
As notícias do jornal só comprovam a minha teoria da abundância de doidos e justificam o meu medo deles! No Brasil, as manchetes são sempre de violência, tiroteio, bala perdida, o que é muito triste e dá medo tbm. Mas aqui as manchetes são assim: "Jardineiro esquarteja patroa e utiliza restos mortais como adubo", "Jovem amarra e tortura colega de quarto com eletrochoques por uma semana", "Satanistas violam todos os túmulos do cemitério da cidade X", "Estudante desaparecido é encontrado queimado até virar cinza no banheiro da faculdade", "Casal é preso por estuprar e enterrar vivas mais de 10 meninas com menos de 8 anos", "Oficial do exército surta e metralha 20 civis em parada militar na pequena cidade Y". Só coisa bizarra! De repente essas coisas bizarras até acontecem tbm no Brasil, mas acabam soterradas pelas notícias de violência e a gente não toma conhecimento.
Mais uma vez eu acho que a teoria do "quem-não-tem-problema-inventa-o-seu" se encaixa aqui. A vidinha pacata e amena, sem grandes problemas e comoções, acaba virando a perfeita máquina de fazer doido!
sábado, 16 de agosto de 2008
Hoje é dia de São Roque!
E pra quem não sabe, ele nasceu aqui em Montpellier! Tá tendo festinha e estão distribuindo água do lugar onde era a casa dele aqui.
A história dele é legal! Ele nasceu no ano da primeira epidemia da peste na Europa e cresceu no meio desse medo. Os pais lhe deram uma educação muito católica e ele era um profundo conhecedor da Bíblia. Quando ficou mais velho, resolveu estudar medicina aqui (é a escola de medicina mais antiga da Europa que continua funcionando até hoje!), ainda influenciado pelo fantasma da peste negra.
Pouco depois, seus pais morreram e ele então deu todos os seus bens e resolveu entrar pra Ordem Franciscana, na Itália. Nesse momento teve a segunda e mais violenta epidemia da peste. Como bom médico e bom católico, lá foi São Roque ajudar os doentes. Ele passava dia e noite tratando e fazendo companhia á eles.
Depois de viver um bom tempo indo de cidade em cidade ajudando na luta contra a peste, eis que o próprio São Roque contraiu a doença. Sabendo que a cura era difícil e que a doença era extremamente contagiosa, ele decidiu se isolar numa floresta pra morrer. Mas um cachorro passou a visitá-lo todos os dias com um pedaço de pão, e graças a isso ele não morreu de fome. Todo santo dia o cachorro ia lá, entregava o pão, e dava uma lambidinha na ferida da peste. E não é que São Roque ficou curado? Ele voltou pra cidade todo feliz e se pôs novamente á ajudar os pestilentos.
Muitos já o consideravam santo, por ter se curado da peste. Nessa época, entretanto, a Itália estava em guerra civil, e São Roque foi preso acusado de espionagem e morreu esquecido na cadeia...
Ele é considerado, por motivos óbvios ao se observar a história dele, como padroeiro dos cachorros, dos médicos e é a ele que a gente tem que recorrer quando tiver uma epidemia!
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Tchau Lipe!
O Felipe foi embora... Não é exatamente um dia feliz...
Mas estou firme no meu propósito de não ficar sofrendo e chorando pelas coisas que eu mesma escolho. Essa ida dele agora em agosto, e não em dezembro junto comigo, foi decidida por nós dois, por ser o melhor pra ele. Voltando agora ele poderia ficar mais tempo no Brasil com a família e amigos antes de voltar pra cá pro mestrado, fazer a prova da OAB e ainda ir no casamento de um grande amigo nosso!
Claro que vou morrer de saudade, mas é só um "até logo" e não um "adeus"!
Fazendo a Pollyanna, estou brincando de Jogo do Feliz, vendo o lado bom de tudo! Sem o Felipe aqui vou ver mais filmes de drama e menos de ação e comédia; vou passar mais tempo na Sephora do que na Fnac quando for no shopping; vou gastar minha cota de calorias comendo mais doces que comidas gordurosas... Enfim, vou poder me jogar nas coisas de mulherzinha!
Lipe, aproveita bastante, lembrando sempre da prudência e do juízo!!!
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Eletricistas: VENHAM PARA A FRANÇA!!!
Como eu já disse, morar na França é bem menos glamuroso e cinematográfico do que passear de bicicleta de boina com uma baguete na cestinha. Se vc mora no 4o andar de um prédio velho em um ap minúsculo, num país que não é seu e numa língua que vc nunca vai dominar 100%, é menos glamour ainda!
Ontem tivemos uma pane elétrica no ap. Só no nosso, o resto do prédio estava ok. Depois de fazer supermercado, subir os 4 andares com as compras, guardar tudo, morrendo de fome e de vontade de tomar banho (pq o tempo tava aquele chuvoso-quente, que faz vc ficar melecada de suor o dia todo), era a última coisa que eu queria!
Primeiro de tudo, fomos ver se a chave tinha caído. E tinha! Eba! Problema resolvido. Só que deu 5 segundos e ela caiu de novo e não levantou mais! A filha do dono do ap mora no andar de cima e, ao escutar ela descendo a escada, fui perguntar o que eu devia fazer, se ela conhecia alguma eletricista, se era melhor eu ligar pro pai dela antes e tal. Como ela estava saindo, ela me disse pra ver se a gente conseguia resolver o problema e se não desse certo, pra ligar pra ela que ela resolveria o problema.
Além da chave que fica dentro do ap, tem um lugar onde fica o reloginho de contagem de eletricidade do prédio todo. Fomos lá dar uma olhada. Só que o negócio era uma zona! 500 reloginhos, uns que pareciam de antes de cristo, outros ultramudernos e eu não tinha nem idéia qual era o meu. A minha educação e o meu medo dos fraceses e de morrer eletrocutada me impediu se sair mexendo em tudo.
Liguei então direto pro Monsieur de BelAir, o dono do ap. O filho dele atendeu com voz de quem tava dormindo. Os pais não estavam. Expliquei a situação e ele, parecendo de saco muito cheio, tipo "o que que eu tenho a ver com isso!", me falou: liga prum eletricista!
Liguei então pra filha. Ela estava dirigindo e falou que me ligava em 5 minutos. Ela disse que os pais estavam de férias e ia tentar entrar em contato com eles, pq eles têm um amigo que faz esses servicinhos caseiros pra eles. 40 minutos depois ela ainda não tinha dado notícia. Fiz a pentelha e liguei de novo! Ela não atendeu. Aquela situação tava me dando nos nervos já! Pq se ela tivessa falado "te vira, nega!", eu já tinha tomado providências! Mas eu sei lá se esse povo tem frescura com que tipo de profissional mexe nas coisas deles, e como ela já tinha falado que ia resolver, eu esperei. Já tava ficando escuro (9 da noite) e eu liguei de novo. Ela falou displicentemente: "Ah, foi mal não ter te ligado! Não consegui falar com meu pai.". Eu perguntei se ela sabia qual era o reloginho do nosso ap, ou se ela tinha o telefone do tal cara do servicinho e ela não tinha idéia.
Livre pra tomar minhas próprias decisões, liguei prum eletricista 24h. Já sabia que esse tipo de serviço aqui na Europa é supercaro, mas me preparei para o pior e liguei mesmo assim, pq eu não tinha escolha! O cara já foi falando pra eu não mexer em nada, pq era perigoso, ainda mais em prédios do Centre Ville, que tem fiação antiga e tal. Me senti ótima, super segura de ter um profisional vindo em nosso socorro!
O cara demorou um tempo pra chegar, pq o povo aqui nunca consegue achar a nossa rua. Depois de subir os 4 andares, chegou bufando e foi logo testando as chaves. Não funcionou. Perguntou se tinha algum outro lugar com chave. Levei ele no armário caótico dos reloginhos. Ele não fez cerimônia alguma e foi logo desligando a chave geral do prédio, mexendo em tudo até que achou o nosso reloginho. A chave dele tinha caído. Voilá! Mas aí ele disse que o problema não é a chave ter caído, mas o QUE fez ela cair. Perguntou o que a gente tava fazendo na hora que a chave caiu. O Felipe tava no computador e eu começando a preparar o jantar. Ahá! O fogão-chapa elétrica! Lá foi ele testar e foi batata! Foi só ligar o fogão e a chave caiu de novo. Ele deu uma olhada, viu o fogão limpinho. Falou que provavelmente a fiação tava úmida e por isso tinha dado um curto-circuito. Mexeu mais um pouquinho e tudo resolvido. Tudo isso não durou mais que 15 minutos, pq quando ele foi embora ainda não tinha recuperado o fôlego da bufação de subir as escadas!
O problema era simples, mas todos os problemas são simples depois que alguém te mostra a solução. A gente nunca ia achar o reloginho e ia demorar décadas pra relacionar tudo com o fogão. O cara foi eficiente e resolveu o problema, o que é o melhor.
Mas o pior estava por vir. A conta! E eu estava já me preparando psicologicamente, mas não tenho nem coragem de dizer o quanto que eu paguei! Só adianto que foi mais que o dobro da minha pior hipótese! E ele ainda foi bonzinho, pq além do deslocamento e do serviço ainda tem um adicional por ser a noite, que ele tirou por dozinha da gente. Mas ganhando esse tanto, eu tbm seria a pessoa mais legal do mundo.
Então se alguém quer vir pra Europa ganhar dinheiro, fazer um pé de meia bem gigante, esqueçam essa coisa de mestrado/doutorado e empregos que seriam bem vistos no Brasil. A onda é bombeiro/eletricista/mecânico/pedreiro! Vc vai ficar rico em um mês!
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Hereditariedade falha
Longe da família, eu tenho percebido em mim cada vez mais traços herdados. Seja no físico, no gosto ou no jeito, seja pela genética ou pela convivência, não tem como. A gente acaba saindo mais parecido com a forma que fez a gente do que imagina, mesmo fazendo força pra fazer diferente.
Na família da minha mãe, corre uma tendência a achar que a comida nunca é suficiente e tentar empurrar goela abaixo das pessoas que te fazem visita a maior quantidade de comida que for possível. Nessa parte, eu estou me saindo melhor que a encomenda. Meus hóspedes que o digam!
Só que eu descobri que eu tenho uma herança falha. Na família da minha mãe tbm rola uma obsessão por limpeza e arrumação. A imagem é tão forte que eu, minha irmã e minha prima, quando pequenas, tínhamos como uma de nossas brincadeiras preferidas lavar banheiro com shampoo Elseve roxo. Uma outra cena que eu não apago nunca da memória é da minha vó, já depois dos 70 anos, agachada com uma agulha tirando a mínima sujeira que fica entre os tacos da tábua corrida do chão da casa dela! Lá em casa, minha mãe tbm seguia a cartilha direitinho, o que fez com que a gente se acostumasse com tudo bem limpo e arrumadinho! Eu fiquei tão mal acostumada que uma vez, ao ir dormir na casa da minha vó, eu fiz ela passar a ferro a cama depois de pronta, pq eu achei que ela não tava tão esticadinha quando a cama que minha mãe arrumava!
Mas a hereditariedade falhou em um ponto. Assim como a lavação de banheiro com Elseve nunca dava certo, eu herdei o gosto por limpeza e arrumação mas não a habilidade para executá-la! Eu sou bagunceira e minha própria bagunça me irrita! Eu gosto das coisas limpas, mas a minha faxina é uma porcaria! E eu juro que tento! O boxe do banheiro então é uma desgraça, porque como a água aqui da França é muito calcárea, parece que ele está sempre sujo! E me irrita demaaaaaais! Essa porcaria de água tbm fez meu cabelo começar a cair muito e o chão fica um mar de cabelos, não importa quantas vezes a gente limpe!
Isso é muita injustiça genética! Vcs não imaginam a aflição que isso me dá! Eu praticamente executo um número de sapateado irlandês "Lord of the Dance" de tanta vontade de dar um piti quando eu detecto essas sujeiras ou as minhas bagunças de roupa, papel, coisinhas, cosméticos, bijuterias, etc!
Meus filhos eu já vou criar num cheiqueirinho pra eles crescerem acostumados com um ambiente não tão asséptico ou então vou programar cursos intensivos de faxina com a minha mãe pra não passar essa falha pra frente!
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Eu não sei nada do mundo...
Essa foto a gente tirou no último domingo da Júlia aqui, na praia de Palavas. Eu tirei a foto pq foi uma coisa que me chamou a atenção. Tava um calor desgraçado e uma família de muçulmanos estava logo ao nosso lado. Os homens de calção, as crianças brincando na areia, algumas mulheres tomando sol de biquini e outras vestidas dos pés á cabeça, com véu e tudo!!! Na foto, uma amiga-prima-cunhada-parente de biquini tenta convencer a outra, completamente vestida, a dar um pulinho no mar. Olhando um pouco mais em volta, vi mais muitas mulheres na mesma situação. Muita dó de enfrentar o calor, ainda mais de frente pro mar, vestida desse jeito.
Confesso que eu só começei a me dar conta da existência da comunidade muçulmana, forte e grande como ela é, depois do 9-11. Eu tava no 3o ano, no Pitágoras, num 5o horário acho que de matemática se não me engano, quando as notícias começaram a pipocar no celulares (ainda relativamente poucos) dos alunos. Minha sala era a única que pegava TV no data show, e logo todos os professores estavam lá olhando pras cenas do World Trade Center em chamas e a gente foi liberado mais cedo. Mais tarde relacionaram o atentado aos fundamentalistas islâmicos e eu achei a coisa toda muito doida: quem é esse povo e qual o problema deles com os EUA? Não que eu tivesse qualquer sentimento de amor pela "América", mas na época eu não entendi muito bem o que eles estavam querendo. Na minha cabeça, eles eram uns gatos pingados pela Arábia, no meio do deserto, criando camelos e rezando voltados pra Meca e só.
Com o tempo, fui percenbendo que o buraco era mais embaixo. Mas depois que eu vim pra cá que eu realmente me dei conta que o buraco é abissalmente mais embaixo! Os muçulmanos dominam a Europa, é só ter olhos pra ver! E não sei se todo mundo se dá conta disso. Num livro que a Júlia me emprestou que chama "O Flanêur" (que eu amei!), onde o cara conta algumas histórias e impressões dele de Paris, ele fala que a cidade deixou de ser branca a muito tempo! Aqui em Montpellier, eu acho que eu nunca peguei o tramway sem um muçulmana característica levando pelo menos um carrinho de bebê! Isso quando não são mais de um carrinho, ou um carrinho e mais dois pequeninos do lado. Daqui uns 20 anos, essas crianças dos carrinhos vão ter crescido. E vão ter se criado na França, que provavelmente vai ser o país onde elas vão trabalhar, votar, viver! E elas vão ser a grande maioria, com certeza, já que o envelhecimento nos países europeus é nítido (apesar da situação ter começado a melhorar um pouco). Eu não falo isso com pavor, achando que vai ser o fim do mundo se os muçulmanos dominarem a Europa. Mas falo isso com o espanto de quem não sabia a dimensão da coisa antes!
E se isso tá acontecendo mesmo, a gente tem que começar a se informar e a entender essa cultura. Coisa que nem eu nem o governo francês parece manjar muito. Essa questão do véu, por exemplo, é uma coisa que eu não consigo formar uma opinião. A Randa, doutoranda tunisiense aqui no lab, é muçulmana e não usa, apesar de rezar (mas não as 5 vezes..), só comer a carne específica que eu esqueci o nome, não ingerir álcool nem se for numa torta de chocolate com uma gotinha de licor. Uma pesquisadora lá da Tunísia tbm que veio visitar o laboratório usa. É solteira, cientista e usa porque quer. Da mesma forma que eu uso um cruxifixo se eu quiser. As meninas são proibidas aqui na França de usar o véu na escola. Uma muçulmana tbm teve seu pedido de naturalização negado, mesmo após anos e anos de vida na França, por usar o véu, pois a França se diz um Estado laico e que preza pela liberdade e igualdade. O véu seria um símbolo contrário a tudo isso. Na rua, além das tradicionais, gordinhas e com lenços e roupas bem típicas, tem algumas mocinhas chiquérrimas, de salto agulha, jeans skinny, que usam um lenço Hermés ou Luis Vuitton na cabeça enquanto compram lingerie fio dental. Seriam elas reprimidas?
Quando eu veja a coitadinha de véu derretendo na praia, enquanto os maridos se bronzeaim de nadam no mar de shortinho, eu fico indignada. Me parece um machismo e uma repressão clara e certa. Mas será que proibir o véu não é proibir tbm um identidade cultural, pra quem tá afim de expressar? Mas será que essa "liberdade" de usar o véu se quiser é mesmo uma liberdade? Quando eu começo a pensar nisso, fico um pouco confusa. Aliás, MUITO confusa.
Nessas horas eu vejo que eu não sei NADA do mundo. E o pior que com as Olimpíadas eu lembro da China bombando na economia! Vem aí mais gente que eu não entendo. SOCORRO!!!
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Último post da crise ou Não há lugar melhor que BH
Depois desse eu juro que c'est fini com essa inconha!
Estou superbem resolvida, graças a todos os queridos que me deram palavras de apoio e a muita bateção de cabeça!
Já acho que sou super brasileira, super mineira e que serei a fundadora do BH-way-of-life que ficará para a posteridade!
Pra finalizar, eu queria só compartilhar um momento muito "patriótico" (essa palavra eu acho que é pra Pátria, mas qual seria a palavra pra caracterizar o amor pela cidade? Cidadótico?) da minha parte: eu fico muito emocionada, de quase chorar, com aquela música do César Menotti e Fabiano que fala de BH!
Acho sertanejo ótimo pra cantar no banheiro ou no carro (via ExtraFM), sempre vindo de dentro, com muito sofrimento! Já fui em show e sei cantar as músicas. Mas eu não sou fãaaa de sertanejo. Não ouço em casa, não compro CD nem baixo da Internet. Então não é o meu gosto por uma "viola xonada" que me emociona. Até porque essa música tem uma levada meio axé.
Eu acho que é pq eu vejo muitas pessoas que não gostam de BH, em vários aspectos. Gente que acha que é uma roça, que não tem nada pra fazer, que não tem vida cultural, , ou até que é grande demais, que é violenta, que o trânsito é burro. Gente que adoraria e ficaria mais feliz em morar no Rio, São Paulo, no exterior ou até no interior. Não sei quanto a vcs, mas eu escuto muito esse discurso, vindo de todos os lados. E eu fico arrasada, pq eu ADORO BH! Acho linda, acho do tamanho certo, acho que têm problemas (lógico!) mas que tem lugar que tá pior e acho mais ainda que meu umbigo tá enterrado aqui, então eu sinto um ímpeto de amá-la, no matter what!
E vendo esse tanto de gente reclamando, eu me sentia só e doida por gostar dessa cidade e ninguém mais! Mas aí os irmãos gordinhos vieram me fazer companhia! E eu fiquei lisongeada pq eles nem são mineiros ("Eu nasci la em São Paulo e desci pro Paranáaaaa") e gostam de BH mesmo assim. Tá bom que eles gostam pq foi aqui que eles conseguiram fazer sucesso e ganhar dinheiro e que provavelmente a música foi encomendada e paga, mas eu não ligo! E continuo ficando com os olhos marejados toda vez que eu escuto:
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
A saga do feijão ou Cultivando a brasilidade
Depois de todo o conflito iniciado pelo cassoulet maldito que culminou com o movimento pró-brasilidade, resolvi que tinha que comer um feijão pra testar!
Aliás, o desapego ao feijão é uma das minhas características anti-brasilidade que começaram a me incomodar. Todo mundo que mora fora sente falta de feijão e geralmente é a primeira coisa que pedem pro povo que vem visitar (eu peço pão de queijo! momento feliz da mineiridade urbana se revelando!). Eu não...
E não é que eu não goste de feijão. Eu amo feijão! E a Lú faz um feijão tão bom lá em casa que ele nem pertence mais ao filo dos feijões normais, já subiu de patamar! E do feijão dela eu sinto falta.
Mas acho que, devido a minha curiosidade gastrônomica que me faz querer, pelo menos por esse ano, experimentar as coisas que eu só vou ter a oportunidade de comer aqui, eu acabei não me ligando muito no feijão (e adquirindo algumas arrobas extras, diga-se de passagem).
Mas aí a gente viu esse feijão enlatado aí embaixo no Monoprix, e ele até tinha uma carinha de feijão brasileiro. "Refogando com um bacon, um alho amassado e uma folhinha de louro, se perigar fica até bom!", disse Júlia Mesquita. O louro eu esqueci, mas o resto todo eu fiz! O caldo meio que custou pra engrossar e ficou numa cor meio estranha, meio clara. Acho que faltou "amor" (sázon!)
Pra acompanhar, eu decidi fazer o meu prato do dia a dia mais favorito de todos! Arroz, feijão, carne moída e ovo frito! Pra mim, ganha do quase unânime arrorfeijãobifebatatafrita.
O arroz, antes a gente tava comprando aqueles de saquinho que vc só ferve e pronto. Mas resolvemos comprar um arroz Thai, que eles mandam fazer igual macarrão, fervendo um litro de água, jogando la dentro e depois escorrendo. Mas fiz ele à lá bresilienne, refogando cebola, cobrindo com um dedinho de água e tal! Não ficou soltinho-da-vovó, mas não empapou, o que já é uma vitória.
A carne moída foi gerada a partir da desconstrução de dois hamburgueres. Não é perfeito, mas é o melhor que tá tendo!
O ovo frito! Quem é que inventou a expressão "não sabe nem fritar um ovo!", como a caracterização do absurdo do não-talento culinário da pessoa em questão? Fritar ovo é a parte mais difícil! É igual falar "não sabe nem integrar uma equação!" ao invés de falar "não sabe nem quanto é dois mais dois!", pra caracterizar a burrice de alguém!
No final das contas, dada a improvisação utilizada na confecção do prato, ele até que deu certo! E ficou bom, viu? Engraçado que eu fiquei até com vontade de chorar! Era como se eu tivesse no Brasil de novo! É o poder do arroz com feijão!
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Patriotismo Roots
Esses dias eu fiquei pensando muito em uma coisa: eu queria ser mais brasileira! Ou pelo menos ter mais cara de.
Muitas pessoas (do Brasil!) me falam que eu tenho cara de francesa. Ainda mais quando eu cortei a franja. Mas o povo aqui não se engana não. E eu nem preciso abrir a boca, pq o sotaque ás vezes entrega, e eles já percebem que eu não sou francesa. Não sei porquê. E no começo eu ficava neurada com isso! Pq eu não posso me passar por francesa?
Mas depois eu percebi que eles sabem que eu não sou francesa, mas não tem nem a menor idéia de onde que eu sou! Eles nem chutam, pq o Felipe todo mundo chuta que ele é italiano. E aí eu fiquei triste, pq eu sou muito ufanista pra não ser notada como brasileira!
E aí me deu crise de identidade! E aí além de ficar neurada por não parecer nada fora do Brasil, eu comecei a viajar por não parecer nada DENTRO do Brasil. E aí a loucura deu três voltas, foi jogar pedra de costas na lua e um abraço!
Essa coisa de ser mineira, nascida, crescida e (se Deus quiser) morrida em Belo Horizonte é uma coisa meio estranha. Primeiro pq é cidade grande, mas não é São Paulo. É Minas, mas não é interior roots! Fiquei viajando que BH não tem nada de muito típico. Quando o povo pergunta aqui do Brasil, a imagem que eles tem é de Rio, Bahia, Amazônia, Pantanal. E tá ok, pq essa é a imagem mesmo passsada pros gringos. Mas nem fazer um romancezinho, falando de fazenda, cachoeira, fogão a lenha e doce de tacho eu posso fazer, pq é mentira! Eu sou mineira, mas eu não tenho isso... Eu sou uma mineira urbana! E que bicho é esse, Senhor?
A Júlia ainda tentou me animar, falando que a gente é uma geração especial, pq como BH é uma cidade ainda nova, não existem muitas pessoas deveras NASCIDAS em BH. E que a gente era roots por ter nascido e que a gente ia inaugurar a linhagem! E que tbm o jeito mineiro de falar de BH é diferente do sotaque de outras partes e tal.
Sei lá se me convenceu, mas como diz o poema-lema de vida, "se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução". E viva a mineiridade urbana!
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Oncontô? Proncovô? Quemcosô?
Aqui no laboratório eu muito bem tratada! Graças a Deus não tenho nada a reclamar. Mas é inevitável sentir , ás vezes e de algumas pessoas, a emissão da mensagem: "Você não é daqui!".
E geralmente não é de uma forma agressiva ou sem educação. Eu penso que é da mesma forma que eu trataria um ET que chegasse na minha casa, ou um índio!
Isso aparece muitas vezes no tipo de pergunta que eles me fazem ("Vc já experimentou vinho?", "Já ouviu falar da culinária francesa?") e na forma de falar, como se vc fosse surda, ou tivesse 5 anos de idade. Ás vezes isso transparece uma curiosidade, o que não me incomoda de jeito nenhum. Mas tem dias, não sei se efetivamente devido a alguma atitude deles ou a um mau humor da minha parte, ás vezes eu sinto um pouquinho de preconceito. Mas não do tipo discriminação . É mais como se eles estivesse fazendo uma grande caridade em me receber. Eu, a pobrezinha da menina do 3o mundo que quer ser cientista, mas coitada, não tem oportunidades dentro do seu país miserável. Que tbm não deixa de ser um pouco verdade, e talvez justamente por isso que me incomoda tanto!
Ontem aconteceu um episódio que me fez pensar nisso. Aqui, cada um tem seu jogo de pipetas pra chamar de seu. Menos eu. Eu gosto de entender que é pq eu vou ficar pouco tempo e não seria necessário investir nisso. Enfim, eu sempre pego de outras pessoas, avisando-as antes, naturalmente. Cada um aqui tem a sua bancada tbm. Mês passado me mudaram de lugar, para uma bancada menor, pra uma menina que entrou pra ser técnica ficar com a minha. Gosto de pensar do mesmo jeito que eu falei: é pq eu vou ficar pouco tempo e eles tem que dar preferência pra quem vai se instalar mesmo aqui. Aí eu fui pegar a pipeta de uma moça lá, como eu preciso fazer para sobreviver aqui! Nisso, uma outra moça, que sempre foi uma gracinha comigo, chegou pra mim com uma vozinha da SuperNanny dando lições para as criancinhas mal-criadas e disse: "Aqui a gente não pega as coisas dos outros assim não!". Eu tentei explicar pra ela a questão toda das pipetas e ela falou mais algumas coisas, mas eu fiquei com tanta raiva que nem escutei direito! Fiquei muito mau humorada o resto do dia! Quando vc acha que realmente já está ambientada no lugar, sempre tem algo pra te dizer que você não pertence a este lugar!
Essa preocupação da não-pertencência se alia a outra que, aparece com a perspectiva da volta. Outro dia a gente encontrou uma carioca surtada na rua, que vendo que a gente falava português ficou querendo ser nossa melhor amiga. Ela contou que ela mora aqui a 8 anos, e a 1 ano o marido dela morreu. E ela tá aqui ainda, passando perrengue, desempregada. A gente logo perguntou pq ela não voltava pro Brasil. Ela meio que enrolou a resposta, mas o que ficou claro pra mim foi que ela tinha feito tanto esforço pra ser daqui, falar bem a língua, se adaptar ao estilo de vida, que ela não conseguia mais se imaginar no Brasil. Mas ao mesmo tempo ela não se sentia totalmente acolhida aqui. Nem lá nem cá, vc passa a pertencer a um vácuo!
Claro que eu sei que 1 ano é coisa pouca, e todo mundo me fala que nada mudou, que tá tudo exatamente a mesma coisa. Mas é mentira, pq tudo muda o tempo todo, inclusive eu! Não tem aquilo de que um homem nunca entra 2x no mesmo rio, pq nem ele nem o rio são os mesmos? Aí me dá muito medinho de pensar nessa volta.
E ontem aconteceu algo que me deu mais medo ainda! Fomos num restaurante com a Júlia e eu pedi um Cassoulet, que é um prato típico daqui, com feijão branco. O tal do feijão, que eu não como á 7 meses, caiu igual uma granada no meu estômago e eu passei mal demais! Tive até que tomar Sal de Andrews, e olha que eu não tomo remédio nem quando estou a beira da morte! Ficou aquela queimação típica de feijão!
A constatação de que meu estômago tá virando um gringo fresco pra comida tá me dando pânico! Será que eu vou ter diarréia do viajante quando eu chegar? Acho isso o cúmulo do podre! Afinal de contas, sou mineira criada a tropeiro com muito torresmo! Se meu organismo não aceitar mais isso é como se eu perdesse a identidade!!! Socorro!